A polêmica do milho

Se você é daquele que gosta de uma boa cervejinha

 

estupidamente gelada, toma litros e mais litros no churrasquinho, na praia, em festas e sempre foi feliz com isso, mas de repente foi surpreendido pela notícia de que estava bebendo milho…

Não se desespere, você não precisa sair por aí denunciando o caso, compartilhando nas redes sociais como se isso fosse um crime ou uma novidade implantada pelas maléficas cervejarias brasileiras.

Recentemente uma amiga compartilhou uma notícia sobre o assunto, pedindo boicote às cervejarias mencionadas na matéria sensacionalista que dizia: “Brasileiro toma água com milho e pensa que é cerveja”, citando algumas poucas marcas.

Dentro da notícia, aí sim um assunto preocupante, alertava para o uso de grãos transgênicos nas composição. O que realmente é algo que precisamos combater devido aos riscos à biodiversidade, à nossa saúde e ao patrimônio genético das plantas e sementes.

Mas o susto nem foi tanto esse. Para muitas pessoas, a surpresa foi o uso de milho! O que? Minha cerveja é feita de milho e não de cevada? Eu não bebo cerveja?

Calma lá pessoal. Em primeiro lugar você não bebe água com milho. Você bebe sim cerveja (se é boa ou não, aí já é uma questão de gosto pessoal).

Essa informação já é de conhecimento de cervejeiros há tempos, aliás, precisamos entender o que é esse milho sendo utilizado, qual o objetivo dele na receita e, principalmente, tirar da cabeça que o líquido deixa de ser cerveja só pelo fato de conter milho na composição.

Antes de mais nada, é importante entender o que é cerveja. Entre as definições, a mais comum encontrada é: “bebida alcoólica obtida por meio da fermentação do malte de cevada, ou de outros cereais, e aromatizada com flores de lúpulo.”

Ou seja, a cerveja pode também ser fermentada com outros cereais que não a cevada! E isso acontece com muita frequência não só no Brasil, mas em reconhecidas escolas cervejeiras.

Existem estilos que utilizam trigo na composição (caso das weiss e witibiers), há cervejas feitas até de abóbora (pumpkin ale) e outra frutas (fruit beers) e cervejas que usam milho e arroz (caso das american lagers erroneamente chamadas no Brasil de pilsen).

A questão aqui é, o que usar, quando usar e por que usar outros adjuntos. As regras variam de país para país, mas em linhas gerais são bem parecidas.

No Brasil, o decreto nº 2.314, de 4 de setembro de 1997 regulamenta a fabricação de cerveja no país. O artigo 64 define o que é cerveja e qual matéria prima pode ser utilizada na receita:

§ 2º Parte do malte de cevada poderá ser substituído por cereais maltados ou não, e por carboidratos de origem vegetal transformados ou não, ficando estabelecido que: 
a) os cereais referidos neste artigo são a cevada, o arroz, o trigo, o centeio, o milho, a aveia e o sorgo, todos integrais, em flocos ou a sua parte amilácea.

Ok, até aí entendemos que cerveja pode sim ter milho e até arroz (como no caso da Budweiser) e isso é apenas uma questão de estilo de cerveja. Mas a birra (sem trocadilhos com cerveja em italiano) é: Por que a cerveja brasileira optou por usar tanto esses adjuntos e deixou de lado o puro malte?

A maior parte dos estudiosos do setor aposta na teoria de que essa opção seja reflexo do perfil consumidor do brasileiro. O uso do milho e do arroz deixa a cerveja mais leve (desce mais redondo), propício para o calor, para se tomar na praia e aos montes.

Voltando à minha amiga lá do início do artigo. Disse o seguinte à ela: será que, se todas as cervejas fossem puro malte, elas iriam agradar ao paladar e à cultura brasileira?

Uma puro malte não é uma cerveja que daria pra se tomar numa praia, num churrasco, em grande quantidade. Em pouco tempo ela ‘empapuçaria’ o estômago do consumidor. Fora isso, o custo da cerveja se elevaria muito devido ao preço da matéria-prima (malte de cevada é muito mais caro do que cereal não maltado).

Agora, a outra questão é: há um lado capitalista nisso tudo? Não há dúvidas de que esse perfil consumidor é atraente para o mercado. Só no Brasil, em 2015, foram produzidos quase 14 bilhões de litros da bebida, mesmo com a queda de 2% na produção.

Mas veja bem. Atualmente, com o surgimento de novas micro cervejarias e brew pubs, temos uma variedade enorme de cervejas que podem agradar a todos os gostos.

Se, mesmo após ler esse artigo, você ainda ficou incomodado com o uso do milho na sua cerveja do dia-a-dia, será que não seria o caso de experimentar outras opções? De repente você se descobre um amante da bebida por suas características e não apenas pelo seu poder de te deixar alegre 😉

2 comentários em “A polêmica do milho

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